terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Desperdício

Somos muitos, vidas independentes que seguem seu caminho em uma cidade que te acolhe, mas não necessariamente te ama.
Somos muitos, mas amamos poucos.
Como poucos são os que compartilham a dor de muitos.
Como muitas são as lágrimas que se perdem em um rosto já molhado pela chuva.

Quantos olhos iremos cerrar?
Quantos torrões de terra levaremos ao mar?

Quando o dia termina e percebemos que estamos diminuídos, que nos falta terra, que um pequeno pedaço de nós se soltou e virou uma ilha solitária em alto mar. 

E então nos perguntamos se os sinos também dobram por nós...

domingo, 17 de novembro de 2013

Música

  O que falar de algo que muito pouco é possível se resumir em palavras? Por mais que palavras façam parte das suas composições...

  Falar sobre música e o seu significado é quase tão difícil quanto descrever a saudade que temos de alguém, o amor que arde o peito e inunda os olhos ou, até mesmo, a dor íntima e profunda de cada um.

  A música acompanha a vida, talvez seja até uma expansão dela. Uma expansão de sentidos que proporciona a materialização de sentimentos e emoções, a partir do toque de uma corda de violão, de um sopro de uma flauta doce ou de um choro de uma gaita triste. 

  Música é um dos instrumentos únicos de comunicação da alma, tradutor universal do seu silêncio íntimo, exteriorizador de suas emoções inenarráveis. Ela nos rouba, ela nos resgata. Transporta a mais dura tristeza e a mais encantadora alegria, nos ensina e nos permite a transmissão da verdade que falhamos ao tentar expressar em palavras, como diria um velho livro da minha prateleira “...as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas”(1).

  A música revela muito mais sobre nós do que sobre quem a compôs, ela é absorvida no nosso íntimo de acordo com o nosso entendimento, de acordo com a nossa emoção.

  Ouço música e lembro da emoção de descobrir um amor...

  Ouço música e lembro das minha batalhas pessoas, das minhas conquistas e das minhas perdas que tanto me ensinaram...

  Ouço música e lembro do meu pai, posso sentir o amor que adentram meus ouvidos e envolve o meu coração. E este amor nunca mais irá embora, mesmo no momento em que a música acabar. O sentimento que estava exilado reencontrou o seu velho lar em meu coração.



(1) "O Corpo", Quatro Estações - Stephen King

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Berlin

Se os muros falassem...
Contariam-nos das mais belas às mais tristes histórias,
das mais vazias às mais repletas vidas, de neve branca à fumaça negra.

Se os muros falassem...
Seria mais fácil entender as motivações de um líder,
a história de sua gente, e as razões por todos os sorrisos contidos.

Se os muros falassem...
Poderiam nos dizer como uma nação se reergue,
como ela volta ao eixo sem, de fato, fazer mais parte dele,
como encontra a luz depois da extensa névoa escura.

Se os muros falassem...
Poderiam nos dizer que muito já ouviram,
que muito já presenciaram, que muitas cores já tiveram,
mas que o cimento que os sustenta ainda é o mesmo.

Se os muros falassem...
Talvez nos pediriam para não ouvi-los, pois não querem mais fazer parte disso,
como um coração, que não quer mais saber de saudade.

Se os muros falassem...
Acho que falariam pouco, pois o tempo os ensinaria que sua sustentação e seu volume
estão na paciência de ouvir, na sabedoria de observar
e na grandeza de servir como apoio e proteção.

Se os muros falassem...
Falariam, quem sabe, mais dos pássaros que dos homens,
mais de sentimentos que de fatos,
e, provavelmente, nunca entenderíamos o porquê disso.

Se os muros falassem...
Poderiam nos dizer que paredes também escutam,
e mesmo que o tempo as destruam,
as memórias cravadas em seus intervalos permanecem.

Se os muros falassem...
Poderiam nos alertar que eles não bloqueiam sentimentos,
às vezes somente nos ajudam a escondê-los de nós mesmos,
como escondemos o rosto ao perceber a lágrima descendo.

Se os muros falassem...
Diriam que mesmo sem ter olhos,
também conseguem enxergar, e fazem da chuva os seus prantos.

Se os muros falassem...
Poderiam nos dizer quantos tijolos são necessários para erguer um sonho.

Ah... se os muros falassem.